Reorientando a economia global
por Ross Jackson. Este trecho foi extraído do livro Economia de Gaia, da série 4Keys, que é utilizado como material do curso de Design Econômico
A crise econômica mundial de 2007–2009 foi, para alguns analistas tradicionais, o estágio final da queda do modelo econômico neoliberal introduzido por Ronald Reagan e Margaret Thatcher na década de 1980. Muitos são os apelos, principalmente por parte das pessoas comuns que estão sofrendo com o colapso, por uma “terceira alternativa”, uma “nova ordem econômica” ou um “novo acordo de Bretton Woods”.
A seguir, descreverei alguns dos principais componentes que seriam convenientes para a reorientação da economia mundial em direção a uma nova ordem econômica que, além de eficiente, protegeria o meio ambiente e as estruturas sociais.
Transferência de capital
Um dos alicerces do sistema atual, que contribui para sua instabilidade, é a livre circulação de capital pelas fronteiras. Isso é muito importante para os neo-liberais, porque eles querem ser capazes de tirar o dinheiro do país rapidamente, quando necessário, para que possa ser investido em outro lugar com um retorno maior em curto prazo. O problema é que as quantias envolvidas são enormes, ao passo que os mercados onde operam são relativamente pequenos. Esses pequenos mercados cambiais e de ações sem liquidez não conseguem suportar a pressão de venda em uma crise de liquidez, e simplesmente entram em colapso.
Livre-comércio e protecionismo
O “livre-comércio” é uma abreviação eufemística para uma estratégia eco-
nômica específica que permite ao mais forte explorar o mais fraco; o oposto do protecionismo, que protege o mais fraco do mais forte. Um termo mais descritivo do que “livre-comércio” seria “comércio forçado”: nenhum país consegue impedir a entrada de produtos estrangeiros indesejáveis sob um regime de livre-comércio, como conseguiam antes da formação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995. Nenhum país jamais se tornou industrializado seguindo a política do livre-comércio.
Um grande mito divulgado pelos neoliberais é que o protecionismo impe-
de o crescimento. O fundamental para qualquer reforma é entender que há diferentes tipos de protecionismo. Alguns são negativos (por exemplo, a proteção de monopólios locais de exploração ineficientes), mas a maioria é, na realidade, positiva (por exemplo, a proteção do meio ambiente e outros interesses de segurança nacional definidos pelo próprio país, como a segurança dos alimentos). O problema das regras da OMC é que elas proíbem todos os tipos de protecionismo. O resultado totalmente previsível é a violação do meio ambiente à medida que as corporações destroem o capital natural do planeta e chamam isso de crescimento. Sob as regras da OMC, nenhum país-membro se atreve a proteger seu meio ambiente exigindo que suas indústrias usem métodos de produção de baixo impacto ambiental, porque suas indústrias se tornariam menos competitivas, e não seria permitido aplicar tarifas a produtos estrangeiros com padrões mais baixos de impacto ambiental.
Proteção do meio ambiente
Para resolver o problema de proteção ambiental, precisamos introduzir
mecanismos que darão incentivos às corporações privadas para que protejam o meio ambiente em vez de destruí-lo. Mas como conseguir isso? Os Estados Unidos e a UE certamente não estão dispostos a assumir a liderança.
Existe, no entanto, outra possibilidade: um grupo de visionários, nações menores que estão dispostas a assumir a liderança nesse momento. Eles deveriam se unir e formular um novo e justo modelo para o comércio internacional e para a governança global, que funcionaria para toda a comunidade mundial; um modelo que permitiria um alto grau de liberdade para as corporações inovarem, mas dentro de uma estrutura que protegesse o meio ambiente e reconhecesse o direito das nações de retomar o controle de suas economias e definir suas prioridades políticas.
Conclusão
Os 25 anos de experiência com o livre-comércio, os fluxos de capitais sem restrições e a desregulamentação têm beneficiado os que já são ricos, e criaram um nível de instabilidade inaceitável, que irá continuar até que reformas sejam implementadas para reverter os alicerces da ideologia do livre mercado. Nós precisamos de uma regulamentação melhor para o setor corporativo. Precisamos de controle de capital nos fluxos de investimentos. Estados soberanos têm de retomar, das corporações estrangeiras, o controle de suas economias, e um novo regime de comércio mundial e governança global, que proteja o meio ambiente e as necessidades sociais humanas, deve ser estabelecido.
Este trecho foi extraído do livro Economia de Gaia, da série 4Keys, que é utilizado como material do curso de Design Econômico do programa Gaia Education Design para Sustentabilidade. O curso em português começará em 18 de maio de 2020. Saiba mais e inscreva-se hoje mesmo!
Gaia Education é uma organização líder em educação para sustentabilidade, que promove comunidades prósperas dentro dos limites do planeta.
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